Os sonhos dos homens assemelham-se entre si. Já os pesadelos, cada um tem o seu. Durante muitos anos eu fui hóspede do frio. Enrolava ganância e ambição e não tinha sonhos, somente pesadelos. O mais recorrente era o do nevoeiro: ninguém me via, era inútil mandar vir uma taça de vinho, no café. O meu dinheiro ninguém o aceitava, ficava parado, fazia de mim um acumulador. Como nunca saía de casa, não sabia falar senão com mortos. Parecia-me magia saber responder boa tarde como vai à saudação dos vizinhos, pedir do vazio ao homem do talho, perguntar as horas. Tempos amargos esses, e hoje, a mesma coisa, a mesma solidão. Com a diferença de que sou mais forte agora, vejo pôr do sol duas vezes por semana, escrevo poemas para não adormecer.
sábado, 27 de setembro de 2008
About the left side
Os sonhos dos homens assemelham-se entre si. Já os pesadelos, cada um tem o seu. Durante muitos anos eu fui hóspede do frio. Enrolava ganância e ambição e não tinha sonhos, somente pesadelos. O mais recorrente era o do nevoeiro: ninguém me via, era inútil mandar vir uma taça de vinho, no café. O meu dinheiro ninguém o aceitava, ficava parado, fazia de mim um acumulador. Como nunca saía de casa, não sabia falar senão com mortos. Parecia-me magia saber responder boa tarde como vai à saudação dos vizinhos, pedir do vazio ao homem do talho, perguntar as horas. Tempos amargos esses, e hoje, a mesma coisa, a mesma solidão. Com a diferença de que sou mais forte agora, vejo pôr do sol duas vezes por semana, escrevo poemas para não adormecer.
domingo, 21 de setembro de 2008
Tratado de Botânica

Hoje abriu a primeira flor e eu disse é um sinal.
Cecília Meireles
Muitas vezes distraídos, vamo-nos deixando enfeitar com o desnecessário e falso, levados por convicções inférteis assentes na imagem e na vontadezinha de controlar o que nos rodeia.
Algumas plantas explicam-nos que de tempos em tempos precisamos de poda, de sermos cortados para crescermos melhor.
A árvore acima é um Gingko Biloba, considerada fóssil vivo e símbolo de longevidade. Não precisa de ser cortada mas, pelo menos, no outono, tem de deitar para o chão as suas folhas cor de sol para as substituir pelo esperançoso verde da estação que terminou ontem.
Enfim... falam-nos de mudança, de transformação, de nos tornarmos inteiros. MAIS INTEIROS.
sábado, 6 de setembro de 2008
E chove...

Hoje chove muito, muito, diria que estão lavando o mundo, o meu vizinho vê a chuva e pensa em escrever uma carta de amor à mulher com quem vive e lhe faz a comida e lava a roupa e faz amor com ele e se parece com a sua sombra, o meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher, entra em casa pela janela e não pela porta pois por uma porta entra-se em muitos lugares como no trabalho, no quartel, na prisão, em todos os edifícios do mundo mas não no mundo nem numa mulher nem na alma (quer dizer nessa caixa ou nave que chamamos assim). Como hoje chove muito me custa escrever a palavra amor porque o amor é uma coisa e a palavra amor é outra coisa e só a alma sabe onde as duas se encontram e que coisas a alma não pode explicar? Por isso o meu vizinho tem tempestades na boca, palavras que naufragam palavras que não sabem que há sol porque nascem e morrem na mesma noite em que ele amou e deixam cartas no pensamento que ele nunca escreverá, como o silêncio que existe entre duas rosas ou como eu que escrevo palavras para regressar ao meu vizinho que vê a chuva pensando e a chuva vê ao meu coração desterrando.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Meu aniversário.

Em 1986, eu nasci. E todo dia desde então assim repete-se. Controlo a intensidade das palavras para que as pulsações continuem firmes. O modo de viver é tornar-me um pouco misterioso, menos efusivo. Confesso - um esforço que me rouba as forças. Contenho os sonhos inevitáveis que me escapam e nunca pensei que isso fosse uma tarefa de tão difícil execução. E percebo, muitas vezes, que eu não sou eu, cada dia, sou outro. Ou que eu sou um eu para cada pessoa que estou, já aperceberam-se disto? Engasgo-me com o excesso de sentimentos - são tão limpos e tento encontrar alguma explicação que transcenda algum sentido, mas não encontro, nestes 22 anos de existência física. Talvez porque não exista. Nesse descompasso, deixo um pouco de cada eu ficar ancorado no peito em busca terra firme - a mesma que desaparece se tratando de sentimentos inefáveis e de dias que nasço. Ainda sim, seria bom - e ideal - desvencilhar-me dos medos sem fundamentos. Parece e até soa estranho, mas finalmente estou feliz hoje.
AMA
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
I learned.
A.M.A
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Pés.

(...) Terás de amar os pés, mesmo que partidos ao meio, na destruição dramática dos seus vinte e seis ossos. (...) Toda a sua minuciosa anatomia de quem quer andar como quem canta. (...) Encontrar-lhe os lírios nas sequelas dos músculos. Dar-lhes corda. (...) Pô-los a pensar sobre os caminhos - dar-lhes caminhos. (...)
Um dia o
A.M.A
domingo, 6 de julho de 2008
Mulheres Parte I
Já sei muito. Sei uma coisa. Sei que não são os vestidos que fazem as mulheres mais ou menos bonitas, nem os cuidados de beleza, nem o preço dos cremes, nem a raridade, o preço dos enfeites. Sei que o problema está em algum lugar. Não sei onde. Sei só que não está onde as mulheres julgam. Olho as mulheres. Existem as muito belas, muito brancas, têm um cuidado extremo com a sua beleza. Não fazem nada, guardam-se apenas, guardam-se para o Tempo, ou os amantes, o verão que chegará. Esperam. Vestem-se para nada. Olham-se. Na sombra dessas vivendas, olham-se para mais tarde, julgam viver um romance, têm já longos armários cheios de roupas a que não sabem que fazer, colecionados como o tempo, a longa sequência dos dias de espera. Algumas ficam loucas. Algumas são trocadas por uma jovem criada que se cala. Abandonadas. Ouve-se esta palavra atingi-las, o barulho que faz, o barulho da bofetada que ele dá. Algumas matam-se. Esta falta das mulheres a si próprias, por si próprias perpetrada, apareceu-se sempre como um erro. Não havia que atrair o desejo. Ele estava naquela que o provocava ou não existia. Ou estava lá desde o primeiro olhar ou então nunca existira. Era a inteligência imediata da relação de sexualidade ou então não era nada. Isso eu já sei.
deve existir uma outra noite onde caibamos todos inocentemente felizes comendo laranjas e discutindo problemas de aromas de flores
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Part II
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Cinco Pedras I

Homem feliz é aquele que administra sabiamente a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias a vir. Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará um pouco de tristeza Oh! Como é triste envelhecer à porta de um sonho. Oh como é triste arriscar em humanos a esperança de um amor que finda na primeira manhã de verão ao longo do mar transbordante de nós feitos de adeus intermináveis. Fico triste no jardim ao olhar a solidão do sol imponente no céu azul, vê-lo desde o rumor e as casas da cidade até uma vaga promessa de rio e a pequenina vida que se concede às suas unhas. Mais triste é ter de nascer e morrer e de não haver árvores no fim da rua. É triste ir pela vida como quem regressa e entrar humildemente por engano pela morte adentro. É triste no outono concluir que era o verão a única estação.
É triste ver passar o solitário vento e não o conhecemos e não sabemos ir até ao fundo de nós mesmos como rios que sabem onde encontrar o mar e com que pontes com que ruas com que gentes com que montes convivem através de palavras ou de uma água para sempre dita. Mas o mais triste é recordar os gestos de ontem. Triste é comprar pipoca depois da partida de futebol entre o uísque e o domingo na tarde de novembro e ter como futuro o asfalto de muita gente e atrás a vida sem nenhuma infância revendo tudo isto algum tempo depois. A tarde morre pelos dias afora. É muito triste andar por entre Deus ausente e um Deus presente. Mas, eu, poeta, administro a tristeza sabiamente.
AMA
segunda-feira, 30 de junho de 2008

sábado, 28 de junho de 2008
Coffee Time
Pago-te um café se me sorrir