quarta-feira, 2 de julho de 2008

Cinco Pedras I





Homem feliz é aquele que administra sabiamente a
tristeza e aprende a reparti-la pelos dias a vir. Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará um pouco de tristeza Oh! Como é triste envelhecer à porta de um sonho. Oh como é triste arriscar em humanos a esperança de um amor que finda na primeira manhã de verão ao longo do mar transbordante de nós feitos de adeus intermináveis. Fico triste no jardim ao olhar a solidão do sol imponente no céu azul, vê-lo desde o rumor e as casas da cidade até uma vaga promessa de rio e a pequenina vida que se concede às suas unhas. Mais triste é ter de nascer e morrer e de não haver árvores no fim da rua. É triste ir pela vida como quem regressa e entrar humildemente por engano pela morte adentro. É triste no outono concluir que era o verão a única estação.

É triste ver passar o solitário vento e não o conhecemos e não sabemos ir até ao fundo de nós mesmos como rios que sabem onde encontrar o mar e com que pontes com que ruas com que gentes com que montes convivem através de palavras ou de uma água para sempre dita. Mas o mais triste é recordar os gestos de ontem. Triste é comprar pipoca depois da partida de futebol entre o uísque e o domingo na tarde de novembro e ter como futuro o asfalto de muita gente e atrás a vida sem nenhuma infância revendo tudo isto algum tempo depois. A tarde morre pelos dias afora. É muito triste andar por entre Deus ausente e um Deus presente. Mas, eu, poeta, administro a tristeza sabiamente.

AMA