segunda-feira, 6 de julho de 2009

the lemon tree it laughs at me, it's growing beautifully

A sua infância foi um país ocupado por entidades detestáveis que impediam as árvores de lhe falar. (Mais tarde, na adolescência, imaginou que engravidara de um limoeiro – ou foi o perfume do seu sexo que o sonhou, ou foi o perfume do seu sexo que foi sonhado, talvez pelo limoeiro.) Nunca pôde se esconder, como as flores se fecham com a noite. Obrigavam-no a sorrir educado, perfiladamente, espetavam-lhe duas bofetadas e obrigavam-no a levantar a cabeça, a erguer os olhos pesados de choro, e a gordura das lágrimas caía-lhe pela face e ouvia-se no chão. A sua infância é um país ocupado até hoje. (A sua vida pareceu-lhe sempre uma longa convalescença. Ou qualquer coisa que lhe foi emprestada. Uma presença emprestada – para quê? A existência parecia-lhe apenas um estado sólido da tristeza mais absoluta. Ou talvez lhe faltasse apenas paciência para viver. Vive por engano? Se morreu, quer saber. Se vive, quer saber. Espera um sinal de si próprio. Espera algo que, dentro dele, arda mais alto do que ele. Um signo que, ao erguer-se, toque e faça girar uma constelação.)