segunda-feira, 30 de junho de 2008




Já pensei, seriamente que sim Quando chegar o fim do verão vou cortar a minha língua, encher a minha boca de terra, e tapá-la bem. Depois é deixar vir ou outono no silêncio. No inverno, hei-de regá-la com uma chuva silenciosa, feita do corpo mudo, que é para ver se lá para a primavera me nasce uma outra língua, irrompendo novas palavras, cheias de ti.



há vozes e fotografias que me calam completamente.

sábado, 28 de junho de 2008

Coffee Time

15.58h. Água + Gás + Sabor (escolhi uva) – R$1,50. Café – R$1,00. O segundo é um vício. Local ?desconhecido?. Ponto de referência: uma biblioteca e um jardim abandonado onde os únicos habitantes são árvores que convivem absortos com a sombra e se remexem ao vento sem pressa ao contrário dos pombos irrequietos. Trago palavras que não digo a ninguém debaixo do braço. Um livro de poesia que insisto em não ler para além da página 23. Eu sei, eu sou teimoso. E levo-o para todo o lado. Reparei agora que aqui ninguém se conhece. Entrei distraído num corredor de solitários lendo livros de filosofia que muito provavelmente não sabe o que fazer à vida. A música do ambiente embala os pensamentos (os meus também) e – nisso – deixei esfriar o café. Sentei-me perto da janela para espantar os olhos. Não se pode fumar aqui e vejo que há quem engane o vício com pastilhas ou halls, umas atrás das outras. É o que eu faço também, só que eu não fumo. Mas espere, há os cinzeiros e estão vazios porque ninguém lhes dá uso. (Decoração?) Gosto do som do café batendo violentamente na lata de lixo. Talvez seja isso que gosto mais aqui: a sinfonia mecânica que me faz esquecer por breves momentos as dores de cabeça habituais. Estranho, não? Mergulho os olhos no fundo do copo também esperando o barulho. Não é que tenha sede, mas divirto-me com o barulho da água caindo lentamente no copo. Tudo isto para não pensar. O livro em descanso na mesa pedindo para que eu o abra na página onde o abandonei. 23.23.23 Não consigo. E tudo isto para não pensar. Em mim. Levanto-me de repente e vou roubar os classificados que estão em exposição na mesa ao lado. Oferta: em letras grandes e gordas. Pensamento: deveriam oferecer-se sorrisos, isso sim. Ora aqui está uma seriedade desnecessária e irreal. Era bonito que toda a gente começasse a sorrir ao mesmo tempo: um atestado coletivo de insanidade mental e estava o assunto arrumado. Às vezes, em dias bons, ainda tento esse sorriso: nas filas do supermercado, nas filas dos carros em trânsito, nas filas – pronto! – que é para ver se a coisa se aguenta com boa-disposição. Mas não, de pouco ou nada me vale o esforço: um olhar torto aqui e ali, um sussurro entre dentes (provavelmente a dúvida: será maluco?) e um virar de cara, na maior parte das vezes. Qualquer dia desisto. Afinal de contas, ninguém dá por falta do sorriso. (Só eu?) Tenho pena. Chamo o empregado (que parece sempre chateado) mal ele acaba de fazer o café. Pago e saio sem deixar sorriso. Acho que não vou voltar amanhã. Aqui ninguém me (re)conhece. Não se ouve murmúrio nenhum. Muito menos do mar.

Pago-te um café se me sorrir