sábado, 27 de setembro de 2008

About the left side

About the Left Side
As vezes em mim, a insônia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa muitas vezes : insuportável. No segundo caso, o homem, ou eu, que não durmo penso: o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração.

Os sonhos dos homens assemelham-se entre si. Já os pesadelos, cada um tem o seu. Durante muitos anos eu fui hóspede do frio. Enrolava ganância e ambição e não tinha sonhos, somente pesadelos. O mais recorrente era o do nevoeiro: ninguém me via, era inútil mandar vir uma taça de vinho, no café. O meu dinheiro ninguém o aceitava, ficava parado, fazia de mim um acumulador. Como nunca saía de casa, não sabia falar senão com mortos. Parecia-me magia saber responder boa tarde como vai à saudação dos vizinhos, pedir do vazio ao homem do talho, perguntar as horas. Tempos amargos esses, e hoje, a mesma coisa, a mesma solidão. Com a diferença de que sou mais forte agora, vejo pôr do sol duas vezes por semana, escrevo poemas para não adormecer.